A singularidade do pequeno Henrique

A singularidade do pequeno Henrique

A singularidade do pequeno Henrique 

Raquel Pivetta

Mamãe, amanhã eu vou querer levar meu carros para a escola — diz, Henrique, caçula de quatro anos.

— Ah, meu filho, não se diz “meu carros”, se diz “meus carros” — corrige a mãe, prontamente.

— Mas o carros é meu, vou levar na mochila. Pode ser? — insiste Henrique. — Todo o meu colegas leva.

Nesse instante, Plíneo, o pai do menino, entra na sala e percebe a expressão preocupada da esposa, que logo o aborda:

— Plíneo, tenho notado uma mania estranha nesse menino — e continua —, ele põe o “s” só em uma palavra, para indicar o plural, e deixa o resto da frase no singular.

— Sabe de uma coisa, Carla? Pensando bem, ele tem lá sua lógica — pondera Plíneo. — Pra que mexer em todos os termos de um enunciado só para sinalizar que é plural? Em vez dessa redundância, não seria mais simples colocar o “s” apenas na palavra principal?

— É, faz sentido — concorda Carla.

— Pois é, vamos deixar assim, por enquanto. Com o tempo, ele vai aprender a forma correta — sugere Plíneo. — Esse garoto é bem espertinho.

— É, ele tá demais… Olha só o que ele aprontou com os carrinhos — comenta Carla enquanto o observa brincar.

— Papai, olha o que eu fiz, coloquei todo o meu carros enfileirado. Um “encarramento”! — diz Henrique, empolgado.

O pai, todo orgulhoso, acha adorável o jeito como ele fala. Mas a mãe não hesita em corrigir:

Não é “encarramento”, Henrique. O certo é engarrafamento.

— Deixa ele, Carla! É um neologismo — defende Plíneo, sorrindo.

— Na verdade, papai, não é neologismo. É que eu não sabia falar “EN-GAR-RA-FA MEN-TO”.

— Tá vendo como esse guri é esperto, Carla?

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2 respostas

  1. Oi Raquel, bom dia,

    Muito interessante essa relação entre país e filhos principalmente nessa fase da vida em que elas ainda não entendem muito bem o mundo nem as formas corretas de expressão. Boa narrativa. Gostei muito. Abraços.

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