Verão, a melhor versão do seu tempo

Verão, a melhor versão do seu tempo

por Raquel Pivetta

Ah, os verões de antigamente… Não são mais os mesmos, mas também nunca foram iguais. Para muitos, nada de praias, de viagens pelo mundo ou de passeios na Disney. Restrições que para alguns são sinônimo de infância perdida. Mas eu sei o que ela fazia nos verões passados…

Devorava punhados de seriguelas verdes com sal, goiabas e mangas bem docinhas, colhidas direto do pé. Nada fazia mal, só manga com leite. Desafiava a gravidade com habilidades quase circenses quando subia nos pés de laranja e ficava pendurada por um triz. E por falar em desafio, o verdadeiro teste de sobrevivência foi a experiência com as balinhas Soft — essas deram susto em muita gente.

Invadia, corajosamente, casas abandonadas para brincar, explorando cada detalhe secreto desses cenários perfeitos. Com a destreza de um pequeno sonhador, improvisava parques de diversão, com trem fantasma e tudo, e construía casinhas (verdadeiros castelos) no quintal de casa. E, é claro, tinha a fábrica de perfumes caseiros — essa renderia um conto. Tamanha criatividade brotava da liberdade ligada ao seu contexto, da pureza e da inocência intrínsecas à sua essência.

Adorava dominó e jogos de tabuleiro, como dama, xadrez e muitos outros. Mas enlouquecia mesmo era com as oscilações do “fica rica, fica pobre” nas intermináveis partidas de banco imobiliário. Pulava elástico como se estivesse competindo nas Olimpíadas — levava escorregões nada glamourosos com aquele bendito Samoa, que eu sei.

E quem não se lembra do bambolê feito de pedaços de mangueira? O problema desse invento era que, sem avisar, ele saía da brincadeira antes de todo mundo — parecia ter suas próprias regras. Amarelinha? Com pedacinhos de tijolo, desenhava um diagrama gigante no asfalto, porque brincar de forma convencional era coisa de amador.

Com elegância e destemor, andava sobre os patins de quatro rodas da vizinha. Também se aventurava em cima do skate do irmão, debochando da física com as mais divertidas manobras. Andava de bicicleta pela cidade, sem hora para voltar. Percorria imensas ladeiras só pelo prazer de voltar sem pedalar, sentindo a brisa acariciar o rosto e suavizar o calor do verão. Sensação de alívio e liberdade…

Ia pro clube a pé com o primo. Relutavam em deixar a piscina quando o segurança os convidava a se retirar. Na verdade, eles prolongavam ao máximo o momento, entregando-se a vários mergulhos, como se cada um fosse o último de suas vidas. Claro! Afinal, eram longas caminhadas, dias mais compridos, mas tardes tão efêmeras! Depois de tudo, ainda jogava queimada na rua até tarde da noite. De vez em quando, enforcava o banho — sem a menor culpa, que eu sei.

A infância simples construía verões memoráveis, cheios de ousadia, risadas, arranhões e histórias para contar. Verões leves e intensos, sem gastar nenhum tostão. Tempos de ouro que não voltam mais, no entanto permanecem eternos, guardados na alma. Como um tesouro de beleza singela, mas que brilha como estrelas em noites estivais de recordações.

Que saudades desses verões!

 

Veja também: Elisa fugia à regra

 

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4 respostas

    1. Oi, Ângela!
      Essas coisas fizeram parte da nossa infância, e você fez parte da minha rsrs. Obrigada pela sugestão de escrever esse texto!
      Abraços,
      Raquel

  1. Oi Raquel!

    Ler esse belíssimo texto e fazer uma viagem no tempo. Não há como negar que a saudade bate no coração e nos deixa com um gostinho de saudade e com um gostinho de “quero mais” É um filme em forma de letras. Parabéns.

    1. Grata por suas palavras calorosas! Fico feliz em saber que meu texto proporcionou essa viagem no tempo e despertou sentimentos nostálgicos. Francisco, obrigada pelo apoio!

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