Reunião de pais
por Raquel Pivetta
A reunião começa pontualmente. A diretora apresenta a escola, mostra as melhorias realizadas, faz breve abordagem sobre a proposta pedagógica. Na sequência, apresenta o corpo docente e os demais colaboradores, discorre sobre os projetos definidos para o ano letivo, passa a lista de materiais e o calendário, informa as regras gerais da instituição. Pronto, a reunião podia terminar ali. Afinal, tudo estava claro como a água.
Só que não… Como de praxe, aquele pessoal interessado, participativo, que lê tudo o que há na literatura sobre como criar filhos vitoriosos e leva as teorias extremamente a sério, resolve lançar suas questões, de modo a prolongar o evento.
— Minha filha, a Valentina, está entrando agora. Como será o processo de adaptação?
— Então… é um processo gradativo, em que a criança… — começa a responder a diretora.
— Minha filha, a Maria Eduarda, já fala mais de 90 palavras, mas só eu entendo. Como os professores vão lidar com essa situação?
— Hum… Veja bem… É normal… — uma professora tenta tranquilizar a mãe.
— Meu filho, o Lucas, usa chupeta. Como vão contribuir para ajudar na retirada?
— Nessa fase, em que a fala se desenvolve a todo vapor, a criança acaba deixando naturalmente a chupeta — responde uma professora.
— Minha filha, a Ana Beatriz, está chegando com cheiro de orégano.
— Seu relato foi registrado e será repassado à nutricionista da creche — informa a diretora.
Depois vêm aqueles que, para não ficarem de fora, resolvem se manifestar:
— Meu filho, o Enrico, não coloca o pingo no “i”.
— Serão realizadas reuniões individuais, em que os pais poderão tratar de assuntos mais específicos.
— Meu filho, o Pedro Henrique, está com dificuldade em pronunciar a letra “y” (ípsilon).
— Mesma situação. Serão realizadas reuniões individuais entre pais e professores…
Em meio a tantas questões específicas, lá vem a pergunta de todos os anos. A campeã. A que aparece em todas as escolas do país, em todas as reuniões, todos os anos: “Qual a metodologia de ensino adotada?” — questionamento constrangedor de se ouvir por quem escolhe o colégio com base em outros critérios, como o preço ou a distância (escola–casa).
Apesar da impressão de estar perdendo algo — é a única a não aproveitar a ocasião para barganhar uma informação em benefício do seu pequeno —, Regina, até então, vinha mantendo o silêncio, torcendo para que as dúvidas se esclarecessem de uma vez e ela pudesse ir cuidar do almoço. Mas o momento aberto às perguntas se arrastava por toda a manhã, e a coisa parecia não ter fim.
A delonga é tanta, que, por um instante, Regina tem a sensação de estar assistindo às antigas aulas enfadonhas de geografia sobre as eras Arqueozoica, Mesozoica…
Pois bem, disposta a mudar o rumo daquela tertúlia e louca por uma brecha para lançar a pergunta que selaria o destino daquele encontro (que horas termina a reunião?), Regina decididamente levanta o braço. De repente, paira um silêncio no ar e todos voltam o olhar para Regina, curiosos por saberem o que ela teria a dizer.
— Pois não, mãe do Gustavo, deseja perguntar algo?
Diante de tanta expectativa, Regina titubeia:
— Eu gostaria de saber o nome das professoras do Gustavo — pergunta Regina, baixando o braço lentamente, desconcertada.
— Essa informação será disponibilizada no final da reunião — responde a diretora — alguém tem mais perguntas?
Pronto. Foi-se a chance. Inicia-se nova rodada de questionamentos. Oportunidade como aquela só na próxima visita do cometa Halley.
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