Realidade virtual

por Raquel Pivetta

Para Laura, os encontros on-line eram mais reais do que qualquer encontro físico, mesmo quando comparados àquele em que os pombinhos se esbarram e trocam olhares ao se abaixarem para apanhar os objetos derrubados. A experiência de teclar abertamente com alguém que demonstrasse genuíno interesse em sua personalidade era, no mínimo, empolgante. Sem falar na satisfação de não ter que ouvir: “você vem sempre aqui?”.

Em um desses dias de exploração cibernética, Laura se viu atraída por um perfil que parecia destoar da maioria. Era alguém que falava sobre paixões, aventuras e momentos simples da vida. Um homem de sorriso gentil e olhos cheios de histórias. Ele compartilhava fotos de suas viagens pelo mundo e dos pratos deliciosos que experimentava. A cada dia, Laura se sentia mais próxima de uma alma gêmea virtual. Ela criou coragem para dar o primeiro passo e então clicou em “Enviar mensagem”.

Os dias passaram, os cliques se multiplicaram e, a cada interação, Laura e Alex descobriam que tinham mais em comum do que podiam imaginar. Eles compartilhavam sonhos e anseios em frente a uma tela luminosa e um destino distante. Os dois se envolviam em conversas profundas, explorando assuntos que em geral seriam difíceis de discutir pessoalmente.

Certo dia, Laura decidiu viajar para a cidade de Alex. O nervosismo era nítido, mas a relação que haviam construído pelas conexões digitais lhe trazia certo conforto. Ao chegar à dita cidade e se aproximar do local do encontro, ela podia sentir o coração acelerar. Assim que se viram, sorrisos largos iluminaram seus rostos.

Porém, algo parecia estar ligeiramente desajustado. Alex não era exatamente como suas fotos de viagens sugeriam. Na verdade, ele era um pouco menos atlético e seu sorriso parecia forçado. E Laura não era tão articulada como nas conversas on-line, sem contar que sua voz saía mais alta e estridente do que o esperado.

Conforme os dias passavam, as diferenças entre eles ficavam mais evidentes, e as “surpresas” não paravam. Alex, que transmitia a imagem de aventureiro destemido em suas histórias on-line, agora se mostrava tímido e um tanto avesso a riscos. E Laura, que tinha se revelado uma pensadora profunda, agora só abria a boca para falar do tempo e das notícias banais.

Os momentos de silêncio entre os dois foram ficando constrangedores. O encontro físico revelou uma realidade meio desajeitada. Ficou claro que o mundo virtual era um lugar mágico, onde suas personalidades brilhavam.

Embora sua história de encontro virtual tenha terminado com uma pitada de frustração, eles não deixaram de lado o bom-humor diante daquela situação de tamanha mudança no rumo das coisas — a impressão era que ali estava nascendo uma amizade. Eles perceberam que a vida real nem sempre segue o roteiro das histórias virtuais.

No final das contas, essa experiência foi só um lembrete de que a realidade virtual pode ser empolgante, mas o mundo real é onde a história acontece. Os episódios do cotidiano entram em cena para dar vida à crônica de uma vida a dois e, quem sabe, a um romance.

Quer dizer, essa foi a ideia a que Laura se apegou por alguns dias… Até encontrar o perfil de Leonardo. “Agora sim” — pensou ela, cheia de expectativa.

Veja também: Sou tua

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2 respostas

  1. Ótima crônica. Realmente o mundo virtual pode ser muito distante da realidade.As vezes se encontra algo fidedigno,mas tem que garimpar muito kkkk. Experiência própria.

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