Breve travessia

Breve travessia

por Raquel Pivetta

Parece indiferente, inexistente…

Mas está bem ali diante de nós — o passado é a prova disso —,

Exibindo seus efeitos,

Anunciando que somos mortais em nossa eternidade.

Fugaz e obstinado, avança sempre na mesma direção.

No entanto, sua ligeireza é relativa:

Voa como um falcão-peregrino nas iluminadas primaveras

E arrasta-se lentamente nas adormecidas tardes cinzentas.

Talvez para nos confundir.

E assim ele impõe o ritmo da nossa caminhada.

Como se não bastasse, envolve-se em todas as nossas celebrações.

E, sem a menor cerimônia,

Saboreia o licor da nossa juventude.

Leva o nosso presente e, para mostrar o que realmente importa,

Torna tudo ínfimo e efêmero.

Tão efêmero, que, quando nos damos conta de toda a beleza,

É tarde para contemplar.

Imparcial, não assume as nossas dores nem lamenta os desamores.

Não perde o equilíbrio tampouco se curva ao livre-arbítrio.

Não há palavras duras que o amoleçam nem reviravoltas que o façam retroceder.

O mais sábio de todos segue imperturbável.

Mas também passa sem passar.

E, nesse paradoxo incessante, leva tudo:

Do balanço à doçura

Até as mais leves lembranças de danura.

Ao final da jornada,

Como troféu reluzente e precioso, erguido com orgulho,

Letras douradas sobre pedra escura e fria,

Imprimindo as marcas de sua passagem em nossa breve travessia.

Veja também: Sou tua

Sobre a autora…