O brilho em duas faces
Cíntia vinha se planejando havia meses para a festa de final de ano da empresa. Todo o esforço pareceu valer a pena. Com o vestido dos sonhos — longo, tecido nobre, fúcsia vibrante, decote levemente canoa e costas nuas —, entrou no salão, atraindo olhares de todos os lados. Cumprimentou os colegas e aceitou o prosecco oferecido na bandeja que passava ao seu lado. Assim que experimentou a bebida, a garganta apertou, como se algo a sufocasse. Por um instante, achou que estivesse vendo coisas. Piscou os olhos, tentando afastar o que parecia ser uma miragem.
Mas o que se manifestava à sua frente persistia: movimentos sutis, sorrisos devolvidos, olhares de cumplicidade. A cena do casal dançando, especialmente o vestido da moça brilhando sob a luz do salão, parecia desenrolar-se em câmera lenta. Subitamente, o semblante de Cíntia se fechou, revelando linhas de expressão mais acentuadas. Mordeu os lábios, sentindo queimar tudo por dentro. Não tinha dúvida, era a gastrite, de novo. Num gesto brusco, puxou o namorado pelo braço:
— Vamos embora, Alexandre. Não estou me sentindo bem.
Sem muitas perguntas, ele a envolveu com um abraço fraterno e simplesmente concordou:
— Vamos, meu amor.
Enquanto isso, a outra, imersa na atmosfera da festa, continuava a flutuar pelo salão. Seu corpo deslizava com graça sob a seda, em sincronia perfeita com a música. E assim a leveza de seus passos e o sorriso largo ressaltavam sua beleza e confiança. Mostravam-se dignos da imponência do vestido que usava — longo, tecido nobre, fúcsia vibrante, decote levemente canoa e costas nuas.