Cilada
por Raquel Pivetta
A moça vaidosa só queria se livrar das manchinhas nas pernas. Era coisa mínima, quase imperceptível.
Depois de pagar a consulta, Marcela começou a reparar cada detalhe da decoração imponente daquele lugar. As recepcionistas se entreolhavam com discrição. O clima era diferente. Um silêncio incomodativo, que só foi quebrado quando a Dra. Rosiane abriu a porta do consultório:
— Marcela Ribeiro… — chamou a doutora.
A paciente entrou na sala, ouviu atentamente o repertório da médica sobre a gravidade da sua doença de varizes e então perguntou:
— Doutora, quanto vai custar?
— As meninas do financeiro vão mostrar o orçamento relativo a cada opção de tratamento indicada para o seu caso.
Enquanto caminhava por um longo corredor, rumo ao setor financeiro, guiada por duas funcionárias da clínica, Marcela mal conseguia disfarçar sua preocupação com o que estaria por vir.
Sem pressa nenhuma de terminar o atendimento, as moças fizeram uma explanação sobre os procedimentos recomendados e ao final revelaram o preço do “investimento”.
— Meu Deus! Isso tudo? — perguntou Marcela, chocada.
— Vale a pena, é a sua saúde! — tentou argumentar uma das funcionárias.
Para Marcela, não havia dúvida: era cilada mesmo. Sua intuição nunca falhava. A vontade era de sair correndo.
Foi quando ela olhou para as pernas e, aliviada, não enxergou mais nada. Não é que as manchinhas tinham desaparecido?!
Marcela já estava entrando no elevador, quando resolveu voltar ao consultório:
— Com licença… A nota fiscal, por gentileza — na certa pensaram que ela ia esquecer.
Veja também: “Tempos moderonos”
2 respostas
As frases “É um investimento” e “É a sua saúde” soam bastante familiares pra mim. Já ouvi uma dúzia de vezes… Quem nunca caiu numa “cilada” dessas?