Josino
por Raquel Pivetta
Josino não dá sorte. Toda vez que vai às compras, alguma coisa dá errado. E isso não é de hoje… Quando era adolescente, descobriu que cada pé de um tênis que havia comprado tinha numeração diferente. Como já tinha usado bastante, não teve coragem de ir trocar — mas não deve ser por isso que hoje ele tem um pé maior do que o outro. Não, não deve ser… Afinal, ninguém é totalmente simétrico.
Outro dia, ele tinha um casamento para ir, então resolveu entrar numa dessas lojas de marca, uma das mais caras do shopping, para experimentar um terno que viu na vitrine. O vendedor prontamente buscou o tamanho 42. Até ali tudo estava indo bem. Porém, quando Josino se viu dentro da roupa, não ficou muito animado.
— Moço, essa manga está mais curta.
— É sua postura, levanta o ombro esquerdo.
O cliente seguiu a recomendação do vendedor, mas continuou insatisfeito com o caimento:
— Ainda está um pouco…
— Agora o senhor solta o ombro direito.
Josino ficou lá, de frente pro espelho, com um ombro caído e o outro levantado. “Pelo menos os punhos estão alinhados” — pensou.
— Mas aqui ficou torto — disse o cliente, referindo-se à parte da frente do paletó.
— É só abotoar tudo.
— Vou ter que fechar o último botão?
— O senhor poderá também estar usando aberto, sem problema! Esse detalhe não vai aparecer quando o senhor estiver se movimentando.
— E quando eu não estiver em movimento?
— Aí o senhor, provavelmente, vai estar sentado. Nesse caso, é aconselhável abrir os dois botões.
— Faz sentido… — comentou Josino, só para ser educado.
Josino levava numa boa essas conversas de vendedor. Dificilmente perdia a paciência. Partiu logo para a avaliação da calça:
— Acho que está apertada na cintura.
— Hummm… O senhor tem que encolher a barriga.
— Mas está justa nas pernas também — complementou Josino, segurando a respiração.
— Ah, esse tecido laceia — estava faltando esse argumento mesmo, eles sempre usam.
— E esse bolso arrebitado, é assim mesmo?
— Sim. Mas, se estiver incomodando, o senhor poderá estar optando por manter a mão no bolso — de novo a praga do gerundismo, nem isso o irritava!
Com o passar do tempo, Josino aderiu às compras on-line. Como era de se esperar, recebeu várias encomendas trocadas. Em sua última investida, comprou um capacete e, depois de quase dois meses, entregaram a ele um penico.
Ah, sobre o terno… Ninguém sabe se Josino comprou. Há rumores de que ele saiu da loja todo desconjuntado.
Também não se sabe se é verdade o que contam sobre o presente de casamento que ele pediu pela internet para entregar direto na casa da Marcinha.
Uma coisa é certa: Josino não tem sorte com as aquisições.
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