Almoço de confraternização

Almoço de confraternização

Almoço de confraternização

por Raquel Pivetta

Era um almoço de confraternização da empresa, daqueles com direito a uma mesa bem comprida, reservada com antecedência num restaurante com vista para o lago. Geralmente aparece bastante gente nesse tipo de evento, ninguém é doido de faltar, até porque quem não é visto não é lembrado.
Os colegas foram chegando e escolhendo seus assentos, de acordo com a iluminação interna, com a vista, com a posição do sol, entre outros tantos critérios. Pois bem, após se acomodarem e iniciarem a saga da análise do cardápio, veio o garçom para anotar os pedidos.

— Eu quero o número 5, risoto de camarão, mas sem creme de leite e sem queijo.

— Eu vou de bife a cavalo, mas troca a batata frita por batata sauté, e o ovo eu quero com a gema mole.

— Me vê o número 6, mas gostaria de batata doce no lugar do arroz.

— Eu vou de carne de sol com mandioca, número 4, mas no lugar da mandioca eu quero salada, e o vinagrete não pode ter cheiro verde. Ah, e a carne, bem passada!

— Eu quero essa salada aqui, mas sem a azeitona, por gentileza. E o arroz, se tiver o integral…

— O meu é o 17, tilápia ao molho especial. Mas, por favor, sem alcaparras no molho e sem canela na banana frita.

Isabel observava atentamente cada recomendação. Nunca tinha visto nada parecido. Ela realmente não conhecia tal prática (de pedir tudo diferente do que está no cardápio).

Até que chegou a vez dela:

— O número 4 para mim, por favor.

— Só? — o garçom perguntou como quem dissesse “não vai fazer nenhuma ressalva?”

— O número 4 — Isabel confirmou, constrangida.

Enquanto o garçom anotava os demais pedidos, Isabel percebeu que, diante de tantos pratos personalizados, era certo que o almoço ia atrasar.
Não deu outra. Somente após cerca de duas horas, o garçom apareceu com os pratos para lá de especiais.

Isabel mal conseguia disfarçar sua decepção. Afinal, a fome só aumentava, e o prato era minúsculo. O tempo era curto, e os pedidos, demorados. A comida era insossa, mais ou menos, e o preço era salgado. O lugar? Ah, esse era chique demais!

A partir daquele dia, toda vez que Isabel recebe um convite de almoço de confraternização, vem-lhe uma alerta: cuidado, cilada!

 

Sobre a autora…

Veja também: A ceia nossa de cada dia

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2 respostas

  1. Tenho um amigo que trabalha numa rede de restaurante aqui do DF que diz assim: sempre que “clientes chatos” fazem esses tipos de pedidos, os garçons avisam ao pessoal da cozinha e estes colocam um “tempero especial”nas refeições…..
    Depois que soube disso, nunca mais alterei os pedidos.

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