Uma coisa com o número 21
por Raquel Pivetta
Apesar de não acreditar muito em superstições — pelo menos nunca fugia dos gatos pretos (pobrezinhos!) nem evitava passar embaixo de escadas —, a mulher estava orgulhosa de ter descoberto seu número da sorte. O primeiro estágio que ela conseguiu na área teve início no dia 21 de outubro de 1992. O primeiro emprego, em 21 de junho de 1995. Depois, passou num concurso público e tomou posse no dia 21 de outubro de 2004.
Ela se casou no dia 9, mas o cartório registrou dia 21. O apartamento é o 201 (sim, é diferente, mas o que é um zero diante de tantos vinte e uns?). A casa nova é de número 21. E por aí vai…
Certo dia, ela comentou tais evidências com o marido. Na ocasião, o homem de poucas palavras pensou por um instante e indagou:
Bom, eu me casei no dia 21 de dezembro de 2000 e sofri uma fratura exposta no dia 21 de dezembro de 2015. O que isso quer dizer afinal? A mulher, que sempre tinha resposta para tudo, dessa vez ficou quieta, pensativa… Algo lhe dizia que era melhor deixar de lado aquela história de número da sorte. E logo tratou de mudar o rumo da conversa antes que o marido viesse com a história de número do azar.
Para piorar, ainda lembrou que estava embaixo da escada, segurando-a, quando ele caiu — mais um ponto para o marido, a corroborar a tese do azar. Mas ela, que não era boba, procurou apegar-se à ideia de que tudo não havia passado de meras coincidências.
“Mas que dia é hoje mesmo?” — a mulher perguntou “em silêncio”.
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