Diálogo, que é bom…
por Raquel Pivetta
A mulher era daquele tipo que fica emburrada, fecha a cara e não quer saber de conversa. Ele também não ficava para trás. A sorte deles é que isso acontecia sempre em momentos alternados: quando um estava emburrado, o outro estava bem e vice-versa. No final, sempre acabavam se entendendo.
Romantismo também não era coisa lá muito comum na vida daquele casal depois de duas décadas juntos. Todo ano, no dia do aniversário dela, ele vinha com a mesma pergunta: “O que você quer ganhar?”.
Era um questionamento perigoso. A esposa poderia responder “um carro”, “uma joia” ou, sei lá, “uma viagem dos sonhos”. Mas não, o silêncio dela diante das perguntas de todos os anos dizia tudo. Dizia que ela não precisava de mais nada, que já tinha tudo, que as coisas materiais não importavam, que as datas eram apenas números, que o tempo passaria de qualquer maneira, a todo tempo, a todo vapor.
O que o silêncio dela não dizia é que certas perguntas deveriam se silenciar. A mulher já demonstrava os primeiros sinais de descontentamento. Da última vez que o marido fez a pergunta, ela respondeu:
— Ah, para com isso! Quem pergunta não quer dar.
O marido ficou em silêncio. Ele poderia refutar ou pelo menos se defender. Mas não, o silêncio dele diante da reação da mulher dizia tudo. Dizia que ele não tinha resposta, que ele havia se redimido e percebido a necessidade de refletir sobre a queixa da mulher.
O que o silêncio dele não dizia eu não sei. Só sei que nos anos seguintes não houve pergunta nem houve presente. E diálogo, que é bom…
Veja também: As fotografias revelam.
2 respostas
Certamente aquele ditado “para bom entendedor meia palavra basta”, não serve para os homens. rs De modo geral, são muito objetivos.
Kkkkk… Não tinha pensado nisso, é verdade! Deve se por isso que as mulheres têm que falar bastante.