Sozinhos de ônibus

Sozinhos de ônibus

Sozinhos de ônibus

por Raquel Pivetta

Léo tinha um problema sério na vista, motivo pelo qual a mãe se preocupava demasiadamente com a segurança do menino. Certo dia, ela precisou que ele fosse à cidade vizinha para pagar uma conta. Raquel, a prima com quem Léo sempre andava pra cima e pra baixo, seria responsável por tomar os cuidados, já que era mais velha. Antes de saírem, a mãe de Léo fez uma lista de recomendações às crianças:

— Observem tudo à sua volta; não deem conversa a estranhos; tomem muito cuidado ao atravessarem as pistas; prestem atenção nas placas dos ônibus.

Ela ainda estava insegura de deixar aqueles dois irem sozinhos de ônibus, afinal era tão longe, tão perigoso…

— Fique tranquila, tia, a gente vai com cuidado — disse Raquel, destemida.

Tomaram o rumo da parada. Sempre que um ônibus se aproximava, eles pediam informação aos companheiros de espera, já que Raquel também não enxergava lá essas coisas. Instantes depois, a placa esperada surgiu, e então eles entraram e seguiram viagem tranquilos.

Ao chegarem ao destino, Léo pagou a conta, conforme recomendado pela mãe, e tudo ia correndo muito bem por sinal. Nem parecia verdade, pois aqueles dois não passavam um dia sequer sem ter uma história inusitada para contar. Pois bem, mas a história ainda não tinha terminado.

Quando estavam caminhando em direção ao ponto para pegar o ônibus de volta, Léo deu a entender que teve um mal-estar — Raquel não compreendeu muito bem o que estava acontecendo. Ele apenas havia dito:

— Raquel, eu vou ali. Espere aqui, que já volto.

Ela ficou esperando por horas, e nada de Léo aparecer. Raquel já não sabia o que fazer. Celular não existia nem em pensamento naquela época.

Cansada de esperar, Raquel resolveu procurá-lo. Entrou em todas as lojas da quadra comercial… Mas nada, nem rastro do Léo.

“Minha nossa, o que será que aconteceu com o Léo? A tia me recomendou tanto!” — Raquel se perguntava, já entrando em desespero.

Estava escurecendo, e não lhe restava mais nada a fazer a não ser voltar para casa. Ela ainda tinha certa esperança de que Léo tivesse voltado também.

Raquel entrou no ônibus preocupada e apreensiva, sem conseguir parar de pensar no primo — o que ia dizer à tia?

Foi quando Raquel teve a impressão de ouvir uma voz distante, vindo sabe-se lá de onde, decerto do além — pelo menos era o que parecia aquilo. Ela temia que já fosse a voz do espírito de Léo. Estava assustada e foi rezando durante toda a viagem.

Ao chegar à parada de destino, Raquel foi uma das primeiras pessoas a descer do ônibus. Ela olhou para trás e se deparou com um mundo de gente saindo em seguida, até que teve uma surpresa:

— Léo!? — Raquel perguntou, pasmada.

— Raqueeeel! Você estava neste ônibus? — perguntou Léo.

Pronto, a partir dali a aflição foi embora, tudo voltou a ser leve como andar na rua de chinelo, chupando dindim e rindo da blusa vestida do avesso. Léo e Raquel nem imaginavam que, depois de tal pesadelo em formato de desencontro, estariam no mesmo ônibus de volta, assim como não conjecturavam que aquele dia seria eternizado em suas lembranças e, de certa forma, revivido por meio de uma crônica.

 

Sobre a autora…

 

Veja esta outra crônica sobre Raquel e Léo: https://www.vivagramatica.com.br/o-colete-azul

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2 respostas

    1. Olá, Roberta! Pois é, muita gente tem-me perguntado isso… Acho que vou ter de escrever uma crônica “Por onde andava o Léo” kkkkk
      Verdade, é para sempre, principalmente por ser amizade de infância. Obrigada!

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